domingo, 14 de junho de 2015

Tenha Bat-Pensamentos Felizes

Não é um princípio absoluto, mas deveria: os limites de um público leitor são ditados pelos autores-criadores. Ponto. Na literatura e nas narrativas gráficas autorais, esse bem que pode ser um primado inviolável, contudo, em seguimentos mainstream da nona arte como a linha editorial dos Novos 52, a percepção que o leitor veterano tem é de que o vale-tudo vanguardista só perpassa títulos em que equipes criativas estejam blindadas com os números. 

Um título com média de 130 mil cópias vendidas mensalmente, e que quatro anos figura livremente entre os cinco mais vendidos do ranking da Diamond, certamente credencia sua equipe criativa titular a alçar voos nas camadas mais altas da atmosfera terrestre. No que diz respeito ao carro-chefe da franquia quiróptera, pode-se dizer que o Batman de Scotty Snyder e Greg Capullo nessa edição #41 chegou a estratosfera. Afinal, em que Terra Paralela faria sentido vislumbrar um Jim Gordon se autoproclamando como um “Batman”, sobretudo num traje mecha de design questionável?
  Antecipando praticamente todas as chacotas que tomaram de assalto as redes sociais, o quadrinho em questão pega emprestado alguns conceitos do Robocop de José Padilha e abraça a ideia de que não importa quem esteja embuçando o capuz, o coração e a determinação certa lhe qualificam como um Batman. Na realidade, já se viu algo assim¹ na extinta Corporação de Grant Morrison, mas na escala sugerida por Snyder, quer dizer, nessa versão do homem por trás do morcego, acredito que seja a primeira vez. A sensação soa parecida com a de outra reinvenção polêmica, tão recente quanto esta. 


¹ Também insinuado nesse spot de Arkham Knight do PS4. 

Por outro lado, quem chegou até aqui, após a leitura das quarenta e umas edições desse Batman, sabe que não deve subestimar o trabalho contundente de Snyder e Capullo. Quer dizer, confesso que, sem antever o quadro geral de Ano Zero, cheguei a questioná-lo sobre a viabilidade do arco, contudo, hoje, volto atrás e digo-lhes que os três atos dessa história compõem um mosaico interessantíssimo sobre os primórdios do morcego – o terceiro, “A Cidade Selvagem” (#30-33), foi nada menos que apoteótico

E lá atrás, em O Espelho Sombrioei, sério que ainda não saiu um HC indonésio disso por aqui? –, já se percebia um sentido místico de Gotham, onde fracos não têm vez, e a certeza que, caso um autor com um punhado de boas ideias desejasse e, melhor que isso, tivesse a chance de fazê-lo, Gordon poderia sim conduzir seu próprio título mensal.
  Duas certezas, contudo, despontam no desfecho dessa edição #41: (1) pelo menos nos próximos meses, os holofotes estarão voltados para Jim – e relaxe, se a trama de “Superheavy” seguir no crescendo que imagino que seguirá, tenho certeza que a diversão está garantida; e (2) [SPOILER] o Bruce ________ para __________.

4 comentários:

doggma disse...

O Gordon pilotando o Máquina de Combate Coelhão? Parece um passo bem arriscado. Mas pelos excertos da HQ, a atmosfera atual parece acomodar esse tipo de ousadia. E já que sobraram observações elogiosas do ghost writer oficial da cidade de Gotham, quem sou eu pra duvidar da empreitada...!

Luiz Gustavo de Sá disse...

"Ghost writer"... há! Quem me dera?! Quadrinho divertido, mas bastante desafiador para haters de ocasião.

Marlo de Sousa disse...

Cara, à primeira vista, é uma ideia de jegue, mas basta ler os quadrinhos mostrados aqui, pra ter certeza de que Snyder sabe o que está fazendo. Esse negócio de Bruce Wayne morto, quem é que não sabe que manobras assim não duram? A graça está no que (e como) acontece enquanto ele estiver fora, mais até do que qualquer explicação meia-boca pra ressurreição.

O texto de Snyder dá um prazer de ler que eu não conhecia nos bat-quadrinhos desde a gestão Rucka/Brubaker. É coisa fina demais.

Abração!

Do Vale disse...

Gosto muito da escrita do Snyder, tanto que desses encadernados de capa dura dos Novos 52 só levei A Corte das Corujas. Curto o texto dele e como ele trabalha a história de Gotham. Agora, os finais... Ele errou bacana em A Noite das Corujas e em Morte na Família. MAS vale o investimento, esperando a Panini publicar o restante da passagem dele no Batman que é cofre.